Ela olhou e tudo pareceu transcorrer em câmera lenta, assim mesmo, como nos filmes.
Lentamente percebeu o que aconteceria, não havia escapatória. Ela estava feliz.
Vários pensamentos passaram por sua mente. Morrer agora? Será? E todos os planejamentos?
Incrível a quantidade de detalhes escondidos em gestos rápidos. Os passageiros se sacudiram para frente, aquele ali estava xingando. O motorista parecia preocupado e muito assustado.
Ela sentiu o impacto, o choque, primeiro em seu braço e sua perna, aquele joelho demoraria a se recuperar.
"O corpo humano é um saco de carne!" - Foi o que pensou quando percebeu que nesses poucos milésimos de segundo em que o choque acontecera não conseguia controlar um movimento sequer. Imaginou seu rosto e corpo desfigurado com a batida em câmera lenta. Como aquele vídeo dos cachorros balançando as cabeças. Estaria com as bochechas tão fundas de um lado e flácidas do outro?
Não conseguiu sequer segurar a bicicleta, saiu voando em direção ao asfalto. Um voo dolorido e meio torto. Jamais imaginou enxergar o cenário daquele ângulo.
O asfalto se aproximava. Seria o fim? Ou apenas o começo de uma vida de recuperação? Perna e braço quebrados. Escoriações pelo corpo... E a cabeça? Havia esquecido o capacete.
O dia estava tão lindo.
Ainda sentiu o corpo ralando pelo asfalto.
Quando tudo se apagou.