Resolvi ler este texto que eu escrevi, segue abaixo o vídeo e o texto.
Depois de sete anos (ou mais) sem emprestar um livro sequer na biblioteca, resolvi visitá-la. O engraçado é que essa visita não foi, inicialmente, com o objetivo de emprestar livros, mas sim, de resgatar a minha "memória literária".
Ocorre que, após estudar vários livros para fazer o vestibular (há quase 10 anos atrás), eu consegui entrar para o curso de Secretariado Executivo, mas então cometi um pecado quase mortal para um leitor voraz, como eu costumava ser: parar de ler literatura.
Foquei apenas nos livros didáticos e técnicos da faculdade, talvez me permitindo a liberdade de ler um ou dois por ano! Por ano! Para quem lia, ao menos, dois por mês, seria um choque incrível, mas eu quis muito levar a faculdade a sério e foi isso que fiz com determinação.
Meu empenho terminou há quatro anos atrás, quando me permiti voltar a sonhar com a literatura e a escrita, colocando algumas coisas no blog, mas então entrei em outro empreendimento, que, novamente, me tirou da rota literária: um novo emprego.
Mas como tudo na vida se aprende, cá estou eu tentando voltar aos trilhos e escrever.
Sempre meu desejo, mas, muitas vezes, por mim mesma renegado. E nessa volta a escrita, descobri que não sabia mais qual meu gênero favorito, ou livro, ou autor, ou mesmo quais livros eu já li na vida. Uma amnésia literária!
Fiquei um tanto chocada quando tentei, muito fortemente, me lembrar dos livros que eu lia, dos tipos que preferia, mas não me lembrei.
Às vezes me lembrava de algum quando ouvia alguém mencionar sua história ou seu nome, mas em geral, apenas sei que lia muito. Mas o que?
Qual gênero era o meu favorito? Era a esse gênero que eu gostaria de pertencer quando escrevesse? Qual era meu/minha autor/autora favorito(a)? Não sei! Não sei! Não sei!
Mas qual lugar melhor para saber o que eu já li se não na biblioteca? Lá fui, temerosa, mas com esperança, de encontrar meu relatório de leituras e poder descobrir minhas origens e recuperar minha memória.
Não me lembro o nome da moça gentil que me atendeu, mas ela foi de em uma atenção sem igual, não me perguntou "Por que?", não me fez uma careta, não me disse que não era sua função e, quando percebeu que não lembrava onde procurar isso no sistema, ainda pediu ajuda e a todo custo (e perda de seu tempo) conseguiu achar o caminho para me auxiliar. Nesta busca, enquanto o sistema se assustava com meus sete anos ausente e tentava resgatar de sua memória os livros que eu já havia emprestado, resolvi dar uma olhada no ambiente. Fiquei feliz. Realmente feliz. Igual criança mesmo. Não sabia que me sentiria assim, mas aquele espaço amplo, cheio de livros disponíveis de graça... Quase me arrancou uma lágrima. Mas me controlei feito gente grande que sou e pude olhar mais tranquilamente.
Naquela manhã (11 de novembro) a claridade entrava suave pelas amplas janelas laterais e duas (ou três) pessoas liam sentadas às mesas.
Uma delas era uma menina graciosa, por volta dos 10 anos, que estava bastante concentrada.
Minha felicidade se transformou em uma forte gratidão por ainda existirem bibliotecas e crianças no mundo, e por existir também uma força superior que faz esses dois seres mágicos se acharem.
Obrigada.
Percebi que havia perdido o foco e, é provável, que estivesse com cara de idiota olhando o nada.
Comecei então a bisbilhotar a primeira prateleira da biblioteca, que fica ao lado da sessão infantil, e contém livros infanto-juvenis, mostrando suas capas e não suas lombadas.
Havia tantos livros interessantes que me deu vontade de ler ali mesmo, mas me contive, lembrando que tinha vários livros por ler em casa.
Mas então, ali no meio dos livros de terror infanto-juvenis, estava um exemplar de "O corvo" de Edgar Allan Poe! Um livro fino, mas todo ilustrado e com o poema mais famoso do Sr. Poe. Como eu poderia resistir?
Eu precisava daquele livro! Porque um mês atrás decidi que escreveria um conto de terror e qual melhor autor para ler se não o Sr. Poe?
Logo meu pensamento novamente estava em êxtase com a ideia de escarafunchar mais prateleiras, mais livros, mais autores, mais histórias, mais, mias, mais!! E levar tudo! Tudo!
Em meio a esse novo devaneio que, dessa vez, acredito ter sido, externamente imperceptível, veio a moça gentil me falar o resultado da busca.
“Então, o sistema retornou um erro, como se você nunca tivesse pegado nenhum livro aqui... Mas eu vou procurar de novo, você pode esperar?”
Fiquei meio sem reação, mas consegui agradecer e concordar com a nova busca. Pois enquanto isso eu olharia mais livros. Tive vontade de viver de novo apenas para poder ler todos eles! Pareciam tão divertidos, assim como aqueles bons filmes de aventuras com bandidos idiotas e crianças espertas.
Então, entre “As crônicas de Nárnia”, os “Harry Potter” e “O diário de um banana” veio a moça gentil me avisar que, pela segunda vez o sistema não havia conseguido me localizar. Ela parecia tão triste e eu apenas disse que tudo bem, porque, afinal, já se iam sete anos, ou mais, sem emprestar nada. Ela voltou ao balcão e eu fiquei ali com minha amnésia literária, tendo a certeza que jamais saberia do que eu realmente gostei, mas refletindo “E daí? Quem se importa? Afinal, posso muito bem recomeçar e, agora sim, ler tudo que der vontade para me decidir os favoritos, e saber do que gosto.”
Com essa decisão em mente fui até a outra extremidade da biblioteca onde se encontravam alguns livros adultos também expostos pela capa e não pela lombada. Lá estavam alguns livros que, acredito, muita gente procura. Dentre eles “O diário de Bridget Jones” que também não pude resistir e decidi levá-lo.
Nesse ínterim, a moça gentil estava na salinha ao lado tomando água e, mais uma vez, a incomodei perguntando como poderia localizar livros de terror nas prateleiras.
E, mais uma vez, sem demonstrar nenhum sinal de enfado, ela se dirigiu em minha direção, dizendo que era melhor se ela me levasse até lá. Então fomos à prateleira do querido escritor de “O iluminado”, mas não era um dia excelente para emprestar um livro do Sr. King, pois vários já não estavam lá, de qualquer forma, escolhi levar “A incendiária”.
Saí feliz dali com meus três livros.
Com entusiasmo os li e os adorei. Fiz vídeos-resenha, e, na devolução, não pude resistir novamente e peguei “Carrie – A estranha”.
Agora penso se resistirei quando voltar à biblioteca para devolvê-lo... Mas no fundo, tenho certeza de que estou louca para não resistir. De que, nem se deveria chamar resistência, pois a biblioteca está lá para isso! E... Como podem ver... Está claro que vou emprestar mais livros.