Mas, o resto do mês é tranquilo e eu consigo perceber o quão maravilhoso é poder viver sendo esse ser mutante e magnífico. Esses dias estávamos conversando eu e minha mãe sobre a amamentação, e ela disse "Como pode o sangue virar leite?" e eu disse "Bom, Jesus transformou água em vinho...". Pois é, ele transformou milagrosamente água em vinho, e nós mulheres já somos um milagre vivo, que, diante da necessidade do bebê, transformamos o sangue que corre em nossas veias em leite. E, ainda, preocupadas com a qualidade, fabricamos o leite mais vitaminado e super-potente que a criança precisa.
Sem falar no próprio milagre de gerar uma vida...
No entanto, essa conversa ainda não se encaixa no meu caso, pois não sou mãe e não experimentei essa transformação magnífica. Quando digo que tenho orgulho de ser mulher é porque somos criaturas dinâmicas e sensíveis. Sei que não falo por todas, mas a grande esmagadora maioria de mulheres que eu conheço são assim.
Mulheres nunca são monótonas. Cada período do mês é uma personalidade assumida. Um dia dócil e submissa, no outro dia feroz e rabugenta. Os homens reclamam não saber lhe dar com essas transformações bruscas no temperamento, mas eu digo que esse é o grande charme de ser mulher.
As mulheres podem se dar ao luxo de armar o barraco quando estão na TPM, comer muito chocolate, gastar com qualquer bobeira, e depois chorar as pitangas porque engordou e está sem dinheiro.
Isso é lindo porque faz parte de todas nós. Uma mulher controlada não tem graça... Aquela que vive em uma constante, sempre divina ou sempre megera... Não agita a vida, não encanta... Embora eu ainda não tenha encontrado uma... Sei que existem, por aí... Escondidas e envergonhadas por negarem sua natureza.
"Quanta besteira!" Diriam alguns homens que conheço (e algumas mulheres também), mas quer saber? Eu não ligo.
Quando, às vezes me revolto e imagino que deveria ter nascido homem é porque me canso de carregar o mundo dentro de mim e ainda ter que, por vezes, explicar a todos quais os motivos de minhas lamuriações. Porém quando volto à razão, percebo que isso é fantástico e eu não quero perder de jeito algum. Besteira ou não, é assim que eu me sinto e é assim que vejo as mulheres que conheço. Anjos que cuidam uns dos outros, vigiam a humanidade e tentam, ao mesmo tempo, encontrar espaço para si mesmos.
Não quero dizer que nos louvem e idolatrem... Quero pedir apenas que entendam que as mulheres são assim mesmo: mutantes. E quero que imaginem como seria se fosse diferente, se esse espírito indomável não existisse. Se aquelas pequenas revoltas cotidianas não se formassem em seu íntimo... Se elas sempre utilizassem a razão e nunca fizessem charme ao pedir algo ou ao se desculpar. Se não existisse aquela mística encantadora por trás dos sorrisos, se não houvesse aquela preocupação excessiva com aqueles que elas amam... Se não houvesse aquele tratado de paz e conforto que existe no interior de todas (que apazigua a violência da razão)... Se não houvesse aquela luta incessante pela aceitação de todas as suas faces...
O que quero não são glórias, são apenas sorrisos e abraços verdadeiros doados com o coração livre. Quero apenas sentir que sou aceita, assim mesmo, desse jeitinho: por vezes vaidosa, outras vezes nerd, ou ainda alguém sem rótulos, apenas normal... Às vezes sargento, outras vezes apenas companheira. Às vezes criança, ou adolescente revoltada, ou ainda adulta racional.
E nem peço apenas que aceitem, peço que apoiem... Que acordem aquelas mulheres que se revoltaram e tentam fingir que são iguais-iguais-iguais todo dia, porque eu sei que elas não são. Se dentro de seu íntimo existem diferentes vozes implorando sua atenção, não as negue. Se nos momentos de descontração e intimidade você tem aquele desejo quase incontrolável de ser outra pessoa, seja!
Mulher, por favor, não queira ser apenas uma... Pelo bem da humanidade continue sendo assim: múltipla, mutante e magnífica.
Pintura de Maurício Barbosa. |